Um novo livro lançado recentemente nas prateleiras digitais está causando grande impacto. Intitulado "Pedofilia na Igreja", a obra é assinada pelos jornalistas Fábio Gusmão e Giampaolo Morgado Braga e traz à tona um dossiê inédito sobre casos de abusos sexuais cometidos por padres católicos no Brasil.

Um dos destaques do livro é o escândalo que ocorreu em Arapiraca, Alagoas, envolvendo três religiosos que foram denunciados em 2010 por crimes sexuais contra menores. Luiz Marques Barbosa, Raimundo Gomes e Edílson Duarte foram afastados de suas atividades após a imprensa revelar seu envolvimento em um escândalo sexual com rapazes. O caso ganhou grande repercussão na época, principalmente após a reportagem exclusiva exibida pelo jornalista Roberto Cabrini.

A investigação em curso contra esses padres é abordada no livro, trazendo informações atualizadas sobre o processo criminal. O dossiê elaborado pelos autores revela detalhes chocantes dos abusos cometidos pelos religiosos e o impacto duradouro nas vidas das vítimas.

Em uma entrevista concedida à Rádio MIX nesta segunda-feira (5), os jornalistas explicaram os motivos que os levaram a escrever o livro. Eles relataram que receberam um convite da editora Máquina de Livros em janeiro de 2020, com a proposta de reunir casos no Brasil, abordando-os de maneira semelhante aos casos ocorridos em outros países, como os Estados Unidos.

"Percebemos que, apesar de sermos o país mais católico do mundo, os casos de abuso sexual envolvendo religiosos não são tratados de forma aprofundada por aqui. Sabíamos que seria um desafio compilar os casos devido ao segredo de Justiça que envolve muitos deles. No entanto, para as vítimas, as consequências se estendem por anos. Muitas delas passam por tratamento, enfrentam dificuldades para encontrar emprego, sofrem problemas de saúde e não recebem reparação financeira pelos danos causados", destacou Giampaolo Braga.

Fábio Gusmão acrescentou que, durante suas duas décadas de pesquisa sobre esses crimes no Brasil, o valor das indenizações por danos morais às vítimas alcança apenas a marca de R$ 1 milhão, uma realidade bastante diferente do que ocorreu nos Estados Unidos, onde foram firmados acordos milionários com as vítimas.

Os autores enfatizam que o levantamento realizado é bastante extenso e acreditam que ainda existem muitos casos não divulgados. Eles argumentam que o segredo de Justiça, embora proteja as vítimas, acaba encobrindo os nomes dos suspeitos, o que impede que novas denúncias sejam feitas.

Durante suas pesquisas, os jornalistas perceberam que as vítimas são frequentemente provenientes de famílias socialmente vulneráveis, muitas vezes com a figura paterna ausente. Essas crianças e adolescentes encontram no religioso o apoio e a figura paterna que tanto precisam, enxergando-os como uma representação de Deus. "Eles procuram vítimas que são facilmente acessíveis e que se sentem incapazes de denunciá-los", ressaltou Giampaolo Braga.

O livro "Pedofilia na Igreja" promete lançar luz sobre essa questão tão delicada, buscando conscientizar a sociedade sobre os abusos sexuais cometidos por membros do clero católico e, ao mesmo tempo, dar voz às vítimas que enfrentam as consequências devastadoras desses atos.